terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Minha primeira TV



Boa tarde gente!

Eu sempre estive na TV!

      A televisão chegou ao Brasil por volta de 1950, mas demorou um bom tempo para que se popularizasse nos lares brasileiros, pois naquela época pouquíssimas pessoas podiam comprar.




     Quando eu nasci os aparelhos ainda continuavam sendo um vislumbre para a sociedade. Alguns poucos tinham acesso às primeiras imagens televisionadas. Os meios de comunicação ainda estavam caminhando para expansão e a maior parte da população ouvia o rádio.

    Enquanto fui crescendo, notei que eu sempre soube algo sobre este aparelho porque fiz a janela do meu quarto se tornar uma TV.

   Com os relatos que eu ouvia a respeito sobre este aparelho eu o adotei à minha maneira: coloquei-o em funcionamento através do espaço quadrado da janela do meu quarto. E funcionava assim:

  “Ligava” minha TV e o meu programa preferido, logo pela manhã era abrir a janela e ver a luz do sol entrar primeiro.

   Depois assistia tudo como se fosse uma novela, que antes só passava no rádio, daí eu comecei a imaginar e enxergar o cenário pela janela: as pessoas saindo de suas casas para trabalhar, as crianças indo para a escola, o padeiro com o cesto de pão quentinho indo de porta em porta, as donas de casa varrendo os terreiros e outras crianças correndo de um lado para o outro pela rua. Ao meio dia eu escutava as badaladas do sino da igreja anunciarem as doze horas e então eu sabia que era hora do intervalo para ir almoçar.

     Nessa mesma época, eu contrai sarampo e catapora e por isso não podia ficar junto com os outros. Da janela TV eu assistia meus irmãos correndo no terreiro em frente nossa casa, via o cachorrinho perdido vagando pela rua a procura de seu dono. E durante essas “cenas” eu gritava, tentava participar, torcia e dava palpites, mas assim como acontece na TV eu estava separada deles por uma janela e o meu som ficava abafado com a algazarra que eles faziam. 

    Ao anoitecer, quando escurecia, o céu se tornava um azul acinzentado e na minha TV janela, já contava com tecnologia a cores, coisa que ainda levou muito tempo para acontecer com a TV tradicional com o seu monótono preto e branco. Então, da minha TV eu assistia a lua cheia irradiando sua luz junto às estrelas. Ficava atenta e de olhos arregalados grudados no céu para ver uma estrela cadente riscar em volta da lua e depois sumir. Neste momento, meu pequenino coração disparava e eu colocava ali meu desejo por algo bom.
 
     Muita das vezes minha TV era tão real que em tempos de chuva, eu estendia a minha mão e pegava as gotinhas na esperança de segurá-las enquanto elas escorriam entre os meus dedos e caíam nas flores do jardim.

     Também não esqueço que na minha TV janela observava os casais de namorados que aproveitavam o escurinho da rua para namorar. Não ouvia e nem entendia muito bem o que falavam ou faziam, porque neste momento a “dona censura”, rs, minha mãe, aparecia para alertar que já estava na hora de dormir. 

     Assim, eu então encerrava o meu dia e a programação da minha TV fechando a janela, desligando a luz e indo para a cama.


Até mais!

Ass.: Dona Rita!

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