Boa tarde gente!
Eu sempre estive na TV!
A televisão chegou ao
Brasil por volta de 1950, mas demorou um bom tempo para que se
popularizasse nos lares brasileiros, pois naquela época pouquíssimas pessoas
podiam comprar.
Quando eu nasci os aparelhos ainda continuavam sendo um
vislumbre para a sociedade. Alguns poucos tinham acesso às primeiras imagens
televisionadas. Os meios de comunicação ainda estavam caminhando para expansão
e a maior parte da população ouvia o rádio.
Enquanto fui crescendo, notei que eu sempre soube algo sobre
este aparelho porque fiz a janela do meu quarto se tornar uma TV.
Com os relatos que eu ouvia a respeito sobre este aparelho
eu o adotei à minha maneira: coloquei-o em funcionamento através do espaço
quadrado da janela do meu quarto. E funcionava assim:
“Ligava” minha TV e o meu programa preferido, logo pela
manhã era abrir a janela e ver a luz do sol entrar primeiro.
Depois assistia tudo como se fosse uma novela, que antes só passava
no rádio, daí eu comecei a imaginar e enxergar o cenário pela janela: as pessoas
saindo de suas casas para trabalhar, as crianças indo para a escola, o padeiro com
o cesto de pão quentinho indo de porta em porta, as donas de casa varrendo os
terreiros e outras crianças correndo de um lado para o outro pela rua. Ao meio
dia eu escutava as badaladas do sino da igreja anunciarem as doze horas e então
eu sabia que era hora do intervalo para ir almoçar.
Nessa mesma época, eu contrai sarampo e catapora e por isso não
podia ficar junto com os outros. Da janela TV eu assistia meus irmãos correndo no
terreiro em frente nossa casa, via o cachorrinho perdido vagando pela rua a
procura de seu dono. E durante essas “cenas” eu gritava, tentava participar,
torcia e dava palpites, mas assim como acontece na TV eu estava separada deles por
uma janela e o meu som ficava abafado com a algazarra que eles faziam.
Ao anoitecer, quando escurecia, o céu se tornava um azul
acinzentado e na minha TV janela, já contava com tecnologia a cores, coisa que
ainda levou muito tempo para acontecer com a TV tradicional com o seu monótono
preto e branco. Então, da minha TV eu assistia a lua cheia irradiando sua luz
junto às estrelas. Ficava atenta e de olhos arregalados grudados no céu para
ver uma estrela cadente riscar em volta da lua e depois sumir. Neste momento,
meu pequenino coração disparava e eu colocava ali meu desejo por algo bom.
Muita das vezes minha TV era tão real que em tempos de chuva, eu estendia a minha mão e pegava as gotinhas na esperança de segurá-las enquanto elas escorriam entre os meus dedos e caíam nas flores do jardim.
Também não esqueço que na minha TV janela observava os
casais de namorados que aproveitavam o escurinho da rua para namorar. Não ouvia
e nem entendia muito bem o que falavam ou faziam, porque neste momento a “dona censura”,
rs, minha mãe, aparecia para alertar que já estava na hora de dormir.
Assim, eu então encerrava o meu dia e a programação da minha
TV fechando a janela, desligando a luz e indo para a cama.
Até mais!
Ass.: Dona Rita!
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